O Direito, de uma forma geral, sempre passou uma sensação de morosidade, de ser algo demorado. Isso acontece, de certa forma, porque a disciplina é, sim, reativa. Primeiro o fato acontece e depois é que se cria uma lei para lidar com o ocorrido. Essa lentidão, no entanto, foi forçada a ser revista durante a pandemia. As leis e medidas continuam vindo depois dos fatos, mas o Direito vem ganhando agilidade. As medidas provisórias editadas no último ano demonstram isso em alguma medida.
Os profissionais do direito, por sua vez, também precisaram acelerar sua própria digitalização.
No ambiente moroso do Direito, é natural vermos advogados que atuam de forma burocrática e distante dos clientes. A mudança desse perfil já vinha acontecendo desde antes da pandemia, como bem aborda o livro “Advocacia 4.0”, que tem vários autores e foi coordenado por Viviane Nóbrega Maldonado e Bruno Feigelson. Cito aqui uma passagem do livro, presente na página 18:
“O amadurecimento da advocacia passa pela reformulação integral do mindset do profissional, que agrega agora outras tantas qualidades, entre as quais a postura colaborativa, a empatia, a capacidade analítica e organizacional, bem como a preocupação com a segurança de dados e a exploração de formas alternativas de solução de conflitos, tudo sob os ditames do princípio maior da ética e dos relevantes fins.”
Vimos isso ser evidenciado na pandemia. As soluções de conflitos no ambiente extrajudicial ganharam corpo, com as partes envolvidas negociando conflitos sem recorrer ao sistema judiciário. Valores de aluguéis de pontos comerciais são um exemplo disso, e um advogado com jogo de cintura se aproxima da outra parte e faz acontecer, sem esperar um embate judicial.
Essa dinâmica mais ágil demanda, por sua vez, um amadurecimento do profissional do Direito, uma mudança de “mindset”, fazendo referência ao livro novamente. Hoje, o advogado precisa ser menos burocrático e ser mais próximo do cliente, assim como já acontece em outras profissões. Isso envolve, além de formas alternativas de conciliação, mais empatia e menos barreiras entre cliente e advogado.
O atual cenário e o fato de estarmos todos trabalhando on-line aceleraram tudo isso, forçando todo mundo a chegar nesse movimento de uma advocacia diferente.
Hoje, vemos que essa mudança não é temporária e que talvez a gente tenha que lidar com isso mais vezes. É uma experiência, portanto, que traz amadurecimento para os profissionais como um todo. É hora de procurar alternativas mais flexíveis e tecnologias que ajudem na execução do trabalho dentro desse novo perfil.
Estamos vendo, no Direito, um movimento externo para o advogado sair da zona de conforto. Além de cada cliente estar em um lugar diferente, a forma de fazer networking mudou e até o jeito de fazer marketing online está sendo revisto. Um exemplo é que o Conselho Federal da OAB votará uma proposta de alteração do Código de Ética da instituição para atualizar as disposições sobre utilização de redes sociais e até mesmo impulsionamento de postagens, que hoje não é permitido por alguns Tribunais de Ética da OAB. A ideia é justamente discutir o tema e regulamentar de acordo com as novas necessidades, especialmente em tempos de distanciamento social, quando se intensifica ainda mais o uso de redes como LinkedIn, Instagram e até mesmo TikTok para divulgação de conteúdo.
Achamos que seria temporário, mas é uma adaptação para todo mundo ficar mais flexível, e que veio para ficar.
*Heloísa Ribeiro é advogada especializada na elaboração e análise de contratos, orientações e pareceres, contencioso cível e direito do consumidor. É sócia do AOA – Andrea Oricchio Advogados e tem experiência em franquia empresarial
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